O título da Copa Libertadores conquistado pelo Corinthians no ano passado marcou a todos os corintianos, isso é óbvio. Mas para nenhum deles a conquista teve um significado tão especial como para o torcedor Rodrigo Parente, o Língua, de 36 anos. Para assistir ao primeiro jogo da decisão, na Bombonera, contra o Boca Juniors, Língua, que é dono de um restaurante japonês no Rio de Janeiro, passou por uma verdadeira odisseia.
Não conseguiu viajar de avião para a Argentina, pois havia perdido a identidade. Decidiu então mudar o voo para Porto Alegre. Já no Sul, pegou um ônibus até a fronteira (uruguaia), mas não conseguiu entrar no país vizinho, pois faltava o documento principal. Passou pela fronteira de forma ilegal, mas foi preso pela polícia argentina. Nem sabe direito como conseguiu a liberação, e chegou a Buenos Aires. Sem ingresso, contou com a ajuda de amigos de uma torcida organizada para entrar no estádio já com o jogo iniciado. Diante dos obstáculos, Rodrigo fez uma promessa: Se conseguisse assistir ao jogo do Corinthians, iria do Rio a São Paulo a pé. E deu no que deu. O torcedor começou a pagar a promessa no último domingo, às 5h30.
- Depois de toda a dificuldade que passei, nada mais justo. Eu não tinha esperança nenhuma de assistir ao jogo, porque eu não tinha ingresso também. Eu fiquei sabendo que tinham 5 mil corintianos sem ingresso. Fiz a promessa pensando “não vai acontecer”. Mas a fé que eu tive quando voltei a andar (eu fui paralítico com 10 anos, voltei a andar aos 12 numa operação espiritual do DR. Fritz) me fez ter essa fé de novo. E aí eu vi o tanto que minha fé é boa em Nossa Senhora de Aparecida. Toda vez que meu restaurante está fraco, eu rezo pra ela e meu restaurante enche. Então fiz essa promessa - conta o torcedor, que parou por um instante a “maratona” do Rio a São Paulo para conversar com a reportagem do Jogo Extra.
Quando foi abordado pela reportagem, na manhã desta terça-feira, ele já estava na altura de Barra Mansa, a cerca de 300 km de São Paulo (percorreu quase 130 km em pouco mais de dois dias de caminhada). O objetivo é chegar na capital paulista na próxima quarta-feira para assistir ao jogo entre Corinthians e Luverdense, pela Copa do Brasil, no Pacaembu. O torcedor também quer dar uma passada no Itaquerão, novo estádio corintiano.
- Meu sonho é que eles liberem para terminar a promessa no Itaquerão. Não sei se o pessoal do Corinthians está sabendo, não sei se eles vão liberar, mas esse é o meu sonho. E eu também tenho um grande sonho que é conhecer o presidente Lula. Gostaria que eles me dessem a oportunidade também. Eu vou morrer feliz se eu conhecer o Lula um dia - afirmou.
Durante a sua aventura, Língua tem dormido e se alimentado em postos de gasolina ao longo da Via Dutra. Ele caminha com uma mochila com poucos utensílios. Possui um tênis extra, algumas camisas do Corinthians, dinheiro para comer e nada mais. O torcedor tem contado com a ajuda de muitas pessoas para conseguir finalizar a saga.
- É impressionante essa questão da ajuda. Quando comecei já em Nova Iguaçu, veio um flamenguista me dar um abraço. Aí passei um pouco, veio um mendigo, carregando uma carriola. Viu minha cruz e falou: “Pô, amigo, você tem que se apegar a Deus...” Foi querer que eu aceitasse Jesus, eu expliquei minha situação, ele foi todo compreensivo. Ficou com dó das minhas costas. Pegou minha mochila, pôs na carriola dele e a carregou por 10 quilômetros. Também me deu um casaco. Eu tenho que voltar lá e retribuir o que ele fez por mim. Aí depois, vieram dois amigos meus, Rafa e Rafael, da Gaviões da Fiel do Rio. Viram minhas bolhas no pé, postadas no Facebook, e me trouxeram uma pomada que os médicos indicaram. Depois que passei a pomada, meu pé ficou ótimo. Só voltou a ficar inchado agora, mas as bolhas melhoraram muito depois da pomada. E agora também, há meia hora, veio um outro torcedor. O cara mora em São Vicente (SP), ele viu pelo Facebook, estava em uma cidade próxima. Veio correndo me trazer água, me trazer pomada. Só que pomada eu já tinha. Para finalizar, estou sabendo que quando eu cruzar a fronteira, tem muita gente me esperando no Vale do Paraíba. Eles estão dizendo que vai ter uma corrente para um carregar um pouco minha bolsa, ir trocando de mão em mão, de cidade em cidade. Eles falaram que vai ser uma coisa de louco. Se você acompanhar, vai ver - sugeriu.
A família de Língua o considera louco. Mas ele explica que a loucura sempre fez parte de sua vida, ainda mais pelo Corinthians, clube de seu coração.
- Já fiz muita coisa pelo Corinthians, por isso não sou rico, faço tudo pelo meu time. Minha mãe fala que eu sou louco. Só que quando eu fui para o Rio, eu tinha só R$ 100 no bolso e não conhecia ninguém, não sabia onde ia morar. Saí para esquecer a mulher que me largou. Estava sofrendo, sumi para esquecê-la. Cheguei ao Rio, aprendi a fazer sushi porque era a comida que minha ex mais gostava. Aprendi a fazer sushi para ver se ela voltava pra mim, ela não quis voltar e virou minha profissão. Hoje tenho meu restaurante. Hoje minha mãe viu os comentários de que eu ia pagar a minha promessa, e falou novamente que eu sou louco. Mas eu sou louco, louco por ti Corinthians - canta Língua.
A caminhada é dura, mas o torcedor não pode parar muito para descansar. Ele quer passar pela fronteira Rio-São Paulo até a noite desta quarta-feira.
- Preciso passar pela fronteira de qualquer forma e vou conseguir. Só no estado de São Paulo que passa o jogo do Corinthians na TV aberta. Tenho esse outro objetivo, ver o jogo do Corinthians desta semana - finalizou.
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