Trata-se, mesmo, do maior espetáculo da Terra. Em cada cidade que ganha a graça de abrigar os Jogos Olímpicos, os seus organizadores se empenham em criar e produzir uma Cerimônia de Abertura mais bonita e impactante do que a anterior. Às vezes, aliás, nem importam os custos. Por múltiplas razões, talvez até por não conhecerem o seu real montante, os três diretores cênicos da festança do Rio/2016, a teatral Daniela Thomas, o cinematográfico Fernando Meirelles e o televisivo Andrucha Waddington, não informam o quanto se gastou no seu evento. Não importa? Claro que sim, no Brasil dos superfaturamentos, de tantos desvios de grana e de corrupção cruel, intolerável.
De todo modo, a partir do Hino Nacional majestosamente interpretado por Paulinho da Viola, valeu a maravilha pelo que retratou do País e da sua brava gente! Salve!
Eu presencio a Abertura, ao vivo e em cores, desde Moscou/1980. Não me esqueço dos cossacos às centenas que brilharam com suas danças naquela ocasião. Ou do astronauta que voou, de foguetes nas costas, sobre o público de Los Angeles/1984. Da disciplina dos jovens que formaram o desenho Yin-Yang em Seul/1988. Da criação do Mar Mediterrâneo em Barcelona/1992. Em Atlanta/1996 eu inclusive participei, com colegas da Rede Record, da narração da festança, marcada por um personagem inolvidável, o ginasta esloveno Leon Stukelj, então com 97 anos, três medalhas pela ex-Iugoslávia nos Jogos de Amsterdam/1928 e de Berlim/1936. E também marcada pelo infarto que matou Evgeniusz Pietrasik, o chefe da delegação da Polônia, no seu acesso à tribuna de honra.
Foi mais tocante presenciar a Abertura de Sydney/2000 de fora do estádio, embrulhado por uma imensidão de luzes cintilantes. Foi empolgante testemunhar, nos Jogos de Atenas/2004, o vestido diáfano da cantora Bjork se desdobrar num véu que cobriu os atletas já acomodados no gramado. Então, em Pequim/2008, além dos fogos de valor estimado em US$ 100mi, a sincronia espetacular de 5.010 suaves bailarinos e de 2.008 percussionistas.
Enfim, dizer o quê da surpresa da descida de paraquedas de uma sósia da Rainha Elizabeth II em Londres/2012? Pois é. E que surpresa havia perpetrado o trio Meirelles + Thomas + Waddington, com a ajuda da coreógrafa Deborah Colker e da carnavalesca Rosa Magalhães para o Rio/2016? Ganhou quem aguardou de alma acesa e de coração aberto.
Impossível estabelecer destaques num trabalho fantástico inclusive por praticamente não recorrer à facilidade dos efeitos de computação e de inteligência virtual. Bem que Meirelles havia antecipado: “Será a Abertura do jeitinho, a Abertura da Gambiarra”. Equipamentos mecânicos? Não, quase tudo movido exclusivamente com as pernas e com os braços. Num mosaico multicolorido de truques engenhosérrimos, de homens e mulheres treinadíssimos.
Com certeza fulgurou a concepção da decolagem do “14 Bis” de Santos Dumont e o seu vôo através da paisagem noturna do Rio. Fulgurou o casamento entre a doçura da Bossa Nova, a ginga do Rap e do Funk, das indefectíveis Escolas de Samba e dos lindos temas de Villa-Lobos. E todo o Maracanã a entoar o “Patropi” de Jorge Benjor.
Houve espaço, até, para uma denúncia da dilapidação do meio-ambiente. Com um grito de esperança, porém. Cada um dos 11.384 atletas participantes dos Jogos recebeu um presente fenomenal: uma semente de árvore nativa do Brasil, que colocou num mini-vaso a ser transplantado, depois, no Parque Radical em Deodoro.
E houve, enfim, a derradeira honraria - Vanderlei Cordeiro de Lima o incumbido de acender a pira olímpica. Cá entre nós, muito melhor do que os patrocinadores de Pelé... Uma pira cuja chama, daí, foi deslumbrantemente embrulhada por um sol simbólico... Uáu...
Gostou? Clique em “Recomendar”, em “Tuitar”, ou registre a sua opinião em “Comentários”. Obrigado. Um abração.